quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Série: Análise de “Poemas” Contemporâneos

Deu Onda (Versão Explícita)
MC G15



Eu preciso te ter
Meu fechamento é você, mozão

Logo que se inicia a leitura da letra desta música, nota-se que ela é toda elaborada em primeira pessoa, trata-se do “eu” lírico, que se refere à subjetividade, ao íntimo, à descrição dos sentimentos e de suas necessidades, tanto amorosas quanto sociais. Observa-se, assim, um ser muito solitário e carente, além de um narcisista e egoísta, características evidenciadas pelos usos dos pronomes “eu” e “meu”.

Eu não preciso mais beber  
E nem fumar maconha
Que a sua presença me deu onda

Nota-se também a presença de várias características de comportamento social do “eu” lírico. A partir desses três versos supracitados, pode-se estereotipar o ser como um “viciado em drogas lícitas e ilícitas”, tratando sua abstinência com a presença da mulher amada, mas, nesse caso, tratando-a como objeto de satisfação de suas necessidades físicas, mais especificamente, fisiológicas. Ou como substituição dessas necessidades, haja vista o uso do verbo “precisar”.

O seu sorriso me dá onda
Você sentando, mozão, me deu onda

Esses dois versos acima só reforçam o que foi dito anteriormente, mas com uma ressalva: aqui o “eu” lírico esboça elogios à pessoa amada, fazendo referência clara ao seu sorriso. No entanto posteriormente reforça o seu instinto egocêntrico, pois tal referência ao sorriso só é possível porque ele (o sorriso) “dá onda” ao ser, ou seja, provoca no “eu” lírico a mesma sensação que uma bebida ou um cigarro de maconha. Há também elogios ao modo de “sentar” da pessoa amada, uma clara referência ao ato sexual, o que veremos mais detalhadamente na análise dos versos abaixo.

Que vontade de fuder, garota
Eu gosto de você, fazer o quê?
Meu pau te ama

Nesses três versos acima, ou quatro, pegando o último da outra estrofe, fica nítido o efeito provocado pelo uso demasiado das drogas na mente do “eu” lírico. Ele não sabe mais, nessas descrições, quem é ele ou quem é seu membro sexual. Pois no verso 2 o ser usa o verbo gostar em primeira pessoa, fazendo referência a ele mesmo. Já no verso 3, ele faz referência ao seu órgão sexual (de forma pejorativa) com a utilização do verbo amar. O que, nesse caso, deveria acontecer o contrário.
O uso do primeiro vocativo (mozão) no início da letra, deixa implícito o gênero da pessoa amada, no que, no primeiro desses três versos acima, o uso do vocativo explicita que se trata de uma mulher. Já no segundo verso, a pergunta remissiva feita no final da frase denota que o “eu” lírico não tem outra opção, já que gosta da garota. Talvez preferisse álcool ou outro entorpecente, mas se conforma com a presença da mulher amada.

Que vontade de fuder, garota
Eu gosto de você, fazer o quê?

A repetição dos versos acima denuncia o desespero do “eu” lírico por sexo. Também confirma o que foi dito anteriormente: o “eu” lírico tem que se conformar apenas com a garota, que, nesse caso, com essa repetição, não concorda com o uso de drogas por parte do namorado (ou amante, ou ficante, ou peguete, ou quebra-galho...), uma vez que esse “fazer o quê?” indica que ele não concorda com a opinião dela, mas deixa claro que o sexo com ela é muito bom para ele.

Meu pau te ama, é
Meu pau te ama
Meu pau te ama, é
Meu pau te ama

A repetição exagerada desses últimos versos, além de confirmar o desespero por sexo, como foi dito anteriormente, mostra claramente o perfil tarado do “eu” lírico, que atribui sua sede sexual ao seu aparelho reprodutor masculino, se eximindo da culpa de querer se relacionar com a mulher.

De maneira geral, e usando o vocabulário exótico e vulgar do “eu” lírico, pode-se traçar um perfil psicossocial da pessoa que fala no texto: um homem bêbado, drogado e tarado.

8 comentários:

  1. Melhor análise impossível! E a descrição final: "um homem bêbado, drogado e tarado"...
    Ribeiro é show!

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    1. Menina... Tu ainda lembras de mim?

      Saudades, Joelma!

      (Melhor turma) ;)

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    2. Um professor bêbado, drogado e tarado! Kkkkkk by: Santiago

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  2. Pra quê tanta inteligência? Pra quê emoção? Qualquer coisa em excesso faz sucesso meu irmão! Perfeita análise!

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  3. O tratamento despudorado de Eu Lírico retrata certo desequilíbrio, desamor (embora haja uso do substantivo "amor"), nos evidencia mal caratismo, marginalidade e, total desconhecimento do romantismo.

    Um poema para ser debatido mais na linguagem Realista, que na linguagem Contemporânea!

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  4. Gostaria muito de ler uma crítica sua em relação a um dos meus poemas.

    Caso possa, fazer-me esta gentileza, eis aqui o endereço:

    https://poemaseprosasdetonyantunes.blogspot.com/2019/02/arido-lero-me-tony-antunes.html

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