Dia desses, estava eu tranquilo e calmo, caminhando sobre a
rampa de acesso à entrada da escola onde trabalho. Quando, do nada, uma aluna grita,
desesperada:
– Ribeiro, quantas vogais tem o alfabeto?
Eu não hesitei, e respondi de súbito:
– São cinco!
Ela (miserável) insistiu:
– Mas um professor me disse que são seis! Pois o “y” entra
no alfabeto como vogal...
Como um desastre não acontece isoladamente, ele resvala em
outros seguimentos, outra aluna gritou:
– Então são sete! Pois o “w” tem som de “u” e deve também
ser enquadrado como vogal.
Não titubeei: mantive a resposta e expliquei rapidamente que
as letras são representações dos sons. Na
língua portuguesa, temos 12 fonemas vocálicos representados pelas letras “A, E,
I, O, U”. Ou era isso; ou teria eu
estudado Fonologia de maneira errada.
A questão, para mim, era simples: como o nosso alfabeto tem
origem no latim, essas letras “K, W, Y” não faziam parte, legitimamente, da
nossa língua; uma vez que, etimologicamente falando, não existem palavras “portuguesas”
com essas letras. Outra situação interessante a observar é que nós já temos “letras”
demais. Como assim? Assim: para o fonema /s/, por exemplo, temos a letra “s” e a
letra “c”; para o fonema /q/, mais uma vez, por exemplo, temos as letras “c” e “q”
(apoiada no “u”).
Explicando a pergunta...
A dúvida das meninas é interessante, porque elas aprenderam,
quando foram alfabetizadas, que “o alfabeto é formado por 23 letras, sendo 5
vogais, que são a, e, i, o, u; e 18 consoantes...” e agora? O.o
Dando a resposta...
Depois de consultar alguns amigos professores de Língua
Portuguesa, Linguística e Filologia; além de alguns sites na web referentes à questão; cheguei a uma
conclusão: o assunto é polêmico sim! As opiniões não são tão consensuais assim,
mas a maioria das respostas converge para a resposta que eu dei as alunas.
O professor Carlos Rocha, do Instituto Universitário de
Lisboa, respondeu assim, a uma professora que o questionou sobre o ensino do “y”
como vogal ou consoante:
As letras representam
sons. Acerca dos sons da língua é que podemos falar de vogais, semivogais e
consoantes. O mais que se pode dizer é que cinco das letras do alfabeto
representam vogais.
Em relação à letra y,
o seu uso tem restrições como o k e o w (ver Base I do Acordo de 1990).
Dependendo dos nomes que a incluam, o y pode ser considerado como vogal, semivogal,
semiconsoante e consoante. Como esta letra é incluída no alfabeto por causa da
grafia de muitas palavras estrangeiras que a ostentam, como professor, chamaria
a atenção para os diferentes sons associados à letra:
a) vocálico — hobby;
b) semivocálico — boy;
c) semiconsonântico ou
consonântico — yuppie, yen (aportuguesamento iene), yeti (o abominável homem
das neves da tradição tibetana).
Acrescente-se que algo
de semelhante pode acontecer à letra w, passível de ter valor semivocálico em
windsurf, mas lido como consoante em wagneriano.
Para finalizar...
Esqueçam o “K”, o “W” e o “Y”... Essas letras só servem para
marcar ordem alfabética! Nenhum professor que esteja ensinando alfabetização vai
ensinar sílabas, por exemplo, com elas.
Então, se alguém perguntar: “quantas letras tem o alfabeto?” responda:
26. “Quantas são consoantes?” responda: 18. “Quantas são vogais?” responda: 5.
E se algum idiota ainda insistir: “E o ‘K, W, Y’?” responda: é um contrapeso;
uma coisa extra... Só serve para marcar ordem alfabética. E se a pessoa ainda insistir
(tem gente que é assim), diga: sei não; pergunte a Ribeiro.
É isso, meus amigos! Como diria Dilma: “um beijo na alma!”.
Para Cibelle Soares do 3º “B” 2015 e todos os alunos da EREM
de Tamandaré!
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